Por Gabriel Neves
O Movimento Brasil Livre (MBL) deu início, no dia 19 de
junho, por meio do You Tube, a uma campanha
contra o regime semiaberto no Brasil. Esse
regime consiste na possibilidade de os presos cumprirem suas penas fora das
penitenciárias, saindo durante o dia e retornando à noite. Os detentos que
conseguem o benefício têm a oportunidade de trabalhar em lugares determinados
pela Justiça.
Tal campanha está apoiando o Projeto de Lei 3.174, da
autoria do Deputado Giovani Cherini (PR) e outros, como Jair Bolsonaro (PSC) e
Eduardo Bolsonaro (PSC). Extinguindo o regime semiaberto, o PL estabelece o
regime fechado e aberto para o cumprimento da pena privativa de liberdade.
Vários são os motivos alegados pelo MBL, representado por Kim
Kataguiri (um dos líderes do movimento), no vídeo. Um deles é de que “70% dos criminosos
presos pela polícia são reincidentes”. Segundo o IPEA, no entanto, a partir de
uma pesquisa realizada em 2015, esse
número cai para 24,4%, uma vez que presos que aguardam julgamento e que são absolvidos
não contam.
Além dessa contradição nos dados, especialistas apontam que,
mesmo que o regime semiaberto necessite de mudanças, ele não pode ser extinguido,
uma vez que o regime prepara o preso para ser reinserido na sociedade, ou seja,
é um mediador entre a privação da liberdade e a liberdade.
Questões que deveriam ser mais evidenciadas são os casos que
deram certo, presos que saíram da cadeia e, a partir do regime semiaberto,
conseguiram suas reinserções na sociedade. O que o PL afirma, entretanto, é
algo oposto, olhando apenas o número de reincidentes, que, na visão dos
apoiadores do projeto, é muito maior do que apontam as estatísticas.
As fontes do MBL
A Agência
Pública, site de Jornalismo independente, tem
um espaço dedicado à checagem de informações repercutidas. Como a campanha do
MBL teve muitas visualizações, principalmente no Facebook (130.300), a Pública
se interessou em checar algumas informações contidas no vídeo.
Ao perguntar quais foram as fontes utilizadas para basear a
informação, o site obteve uma resposta agressiva por parte do movimento, que
anexou, inclusive, a foto de um pênis, acompanhada da frase “Check this”. Esse
fato está disponível aqui.
A ditadura da miséria
Diversos fatos históricos que ocorreram na humanidade e que
tiveram resultados evidentes nos mostram aonde o Brasil vai parar com a volta
do neoliberalismo.
O discurso de ódio contra o Estado (costumeiro no
liberalismo, desde que o Brasil era império) é contraditório, na medida em que
os mesmos que proferem esse discurso apontam uma necessidade de se ampliar a
entidade odiada, no campo da repressão. Criação de mais presídios e modernização do aparato de repressão são alguns dos exemplos.
Para que tudo isso chegasse a esse ponto, foram necessárias
estratégias. Parecidas, inclusive, com estas aqui.
Como excelentes métodos de divulgação de ideias, livros,
palestras e conferências estão entre as estratégias utilizadas pelos liberais,
desde de que Charles Murray,
politicólogo que recebeu 30 mil dólares e 30 anos de tranquilidade para
escrever Losing Ground, veio à tona, por meio de investimentos maciços do Manhattan
Institute, sendo colocado nos circuitos talk
shows televisados e nas conferências universitárias. O livro de Murray, segundo
Loic Wacquant, autor de As prisões da miséria, é
uma “obra recheada de absurdos lógicos e erros empíricos”.
Apesar dessas estratégias terem sido usadas na década de 80, ainda
estão em evidência:
No dia 20 de julho, o site Justificando publicou uma notícia
cujo título era “MP-RJ convida Kim Kataguiri para palestra sobre segurança
pública e bandidolatria”. A palestra está
programada para acontecer no dia 15 de setembro junto com o lançamento do livro
Bandidolatria e Democídio, Ensaios sobre
o Garantismo Penal e Criminalidade no Brasil (clique aqui e veja uma resenha do
livro). Como dito anteriormente, diversos fatos históricos que ocorreram na
humanidade e que tiveram resultados evidentes nos mostram aonde o Brasil vai
parar com a volta do neoliberalismo.
Os EUA pararam no topo do ranking de países com a maior
população carcerária do mundo. Mas, antes disso, a segunda parte das
estratégias tiveram que ser concretizadas.
Após a concretização dos ideais, políticas de favorecimento a
empresas privadas foram o foco, nos EUA, privatizando o sistema penitenciário e
obrigando os detentos a trabalharem de graça. Um verdadeiro trabalho escravo. Isso
é evidenciado no documentário A 13ª
Emenda. Leia a resenha do documentário aqui.
No Brasil, além disso, houve a criminalização da esquerda,
aproveitando a imagem de corrupção do Partido dos Trabalhadores (PT) e fazendo
associação com todos os partidos de ideologias semelhantes, não só do Brasil,
mas da América Latina. O MBL, por exemplo, já chegou a publicar seis posts
seguidos, na rede social instagram, apenas atacando os partidos, movimentos e
líderes da esquerda.
Dessa forma, redução do Estado nos campos social e econômico
(com corte de gastos nas áreas de saúde e educação e a não intervenção na
economia), o crescimento da sua presença no campo penal (com aumento de gastos
na repressão sistematizada), além
da realização de conferências e palestras, publicação de livros, disseminação
de novas moralidades (como a do trabalho), e a instauração do trabalho gratuito
dos detentos como nova forma de escravidão, são fatos que estão ou estarão para
acontecer no Brasil e já se sabe o que isso irá
gerar, tendo como uma manifestação da ditadura da miséria o Projeto de Lei que
visa a extinção do regime semiaberto, o qual, no longo prazo, não combaterá a
reincidência criminal e cooperará para o aumento do encarceramento (que já em
massa).
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